Um dos mais polêmicos casos da Ufologia Mundial, ocorrido
em 16 de janeiro de 1958, nas imediações da Ilha de Trindade, no litoral do
Espírito Santo.
O caso da Ilha de Trindade é um dos mais importantes
casos da Ufologia Brasileira e Mundial, sendo citado ainda hoje em diversos
sites, revistas e jornais ufológicos. Isso se deve pela qualidade das imagens e
dos testemunhos associados ao caso.
Em 16 de janeiro de 1958 o navio Almirante Saldanha, da
Marinha do Brasil, estava próximo à Ilha de Trindade, no litoral brasileiro e
sua tripulação fazia pesquisas associadas ao Ano Geofísico Internacional. O
evento desta data, em que foram obtidas fotografias de um disco-voador, é o
ápice de uma série de fenômenos verificados na ilha nas semanas anteriores e
testemunhados por operários, marinheiros e oficiais em várias ocasiões entre
dezembro de 1957 e janeiro de 1958. Destes, pelo menos cinco incidentes haviam
chamado a atenção, pois tiveram como testemunhas oficiais de alta patente,
cientistas e outros especialistas presentes no local.
Um destes eventos ocorreu em final de novembro de 1957,
em uma manhã clara e ensolarada, quando um balão meteorológico foi lançado para
estudos. O comandante Bacelar estava no interior de uma estação de rádio
acompanhando o experimento. Em dado momento houve uma distorção nos sinais
levando o comandante acreditar que os equipamentos do balão haviam se
desprendido. Ele avisou um de seus subordinados que saiu para verificar. Ao
voltar o oficial afirmou que havia outro objeto no céu, próximo ao balão. O
comandante correu para observar e avistou o referido objeto andando
erraticamente pelo céu fazendo manobras fechadas em alta velocidade. Olhando
com instrumentos o oficial percebeu que o objeto era circular e de aparência
metálica. Após o evento o militar enviou uma mensagem via rádio para a central
da Marinha solicitando informações. Este era o terceiro evento registrado na Ilha
em poucos dias. O numero de aparições aumentou consideravelmente com aparições
quase diárias.
Nos primeiros dias de janeiro de 1958, o objeto foi
novamente registrado sendo que desta vez causou pânico entre os presentes, pois
o objeto realizou manobras muito baixas. Em alguns casos parecia que se
chocaria com instalações militares e científicas da Ilha. Estes fatos já
estavam sendo investigados pela Marinha. Neste episódio em específico as
testemunhas foram interrogadas cuidadosamente. Um sargento da Marinha presente
na ocasião conseguiu uma fotografia do OVNI. O negativo foi apreendido pela
Marinha.
Dias depois deste evento, em 16 de janeiro, o Almirante
Saldanha chegava à Ilha de Trindade, tendo a bordo o fotógrafo profissional
Almiro Baraúna. Por volta do meio dia o OVNI apareceu novamente chamando a
atenção de vários militares presentes tanto na ilha quanto nas embarcações
presentes no local. O OVNI veio em direção à ilha em alta velocidade, pairou
ligeiramente sobre um pico, desapareceu atrás dele por algum tempo e
movimentou-se em direção ao mar. Baraúna conseguiu obter quatro imagens do
objeto durante estas manobras.
Segundo jornais cariocas, da época, devido à repercussão
do caso na mídia o Pentágono solicitou cópia das fotografias para análise.
Segundo o embaixador americano na época o Pentágono tinha interesse em comparar
estas fotografias com outras existentes em seus arquivos. Talvez este pedido
tenha ocorrido motivado pela visita do major-general Thomas Darey, da Força
Aérea Americana ao Rio de Janeiro dias antes da notícia ser veiculada.
Em entrevista para a imprensa, o almirante Gerson Macedo
Soares, secretário geral da Marinha, na época, confirmou o episódio ocorrido em
Trindade. O comandante Pedro Moreira, oficial de relações públicas também confirmou
os fatos noticiados pela imprensa.
INQUÉRITO OFICIAL
O evento de 16 de janeiro obrigou a uma investigação
oficial por parte da Marinha do Brasil por determinação do Congresso Nacional.
O inquérito, aprovado pela Câmara dos Deputados no dia 27 de fevereiro de 1958,
de autoria do deputado Sérgio Magalhães, solicitava que a Marinha explicasse os
fatos relacionados ao incidente da Ilha de Trindade:
Diário do Congresso Nacional (27 de fev. 1958)
Objeto: O Ministério da Marinha é solicitado a responder
às seguintes perguntas do Deputado Sérgio Magalhães:
Original do pedido de informações sôbre D.V. pelo
Deputado Sérgio Magalhães:
As perguntas formuladas são as seguintes:
(1) Se é verdade que a tripulação do NE "Almirante
Saldanha" assistiu ao aparecimento de estranho objeto sôbre a Ilha de
Trindade.
(2) Considerando que a nota oficial emitida pelo gabinete
do Ministro da Marinha reconhece que foram tiradas fotos do estranho objeto na
presença de grande número de elementos da guarnição do NE "Almirante
Saldanha", pergunto se foi aberto algum inquérito e tomados os depoimentos
dos tripulantes.
(3) Na hipótese negativa, em que se baseia o Ministério
da Marinha para não dar importância ao fato.
(4) Se é verdade que as fotos foram reveladas na presença
da oficialidade do NE "Almirante Saldanha", denunciando logo o
estranho objeto.
(5) Se os negativos foram submetidos a exame a fim de
apurar qualquer fotografia realizada antes do acontecimento.
(6) Por que o fato foi mantido em sigilo durante cerca de
um mês.
(7) Se é verdade que outros fenômenos idênticos foram
observados por oficiais da Marinha.
(8) Se é verdade que o comandante do rebocador
"Tridente" assistiu ao aparecimento do objeto chamado "disco
voador".
Justificativa
O aparecimento desses estranhos objetos, conhecidos como
Discos Voadores, vem despertando, há mais de dez anos, o interesse e a
curiosidade mundial.
Pela primeira vez, porém, o fenômeno é assistido por
grande número de elementos de uma força militar e as suas fotografias recebem a
chamada oficial, numa nota distribuída a imprensa pelo gabinete do Ministro da
Marinha. Sendo, entretanto, uma questão que afeta a segurança nacional,
necessita de maior esclarecimento, porquanto há contradições nas notícias
divulgadas, sem que a Marinha procure a informar opinião pública. Ainda mais
que, declarando oficialmente o gabinete do Ministro da Marinha ter grande
número de elementos da guarnição do NE "Saldanha da Gama" visto o
estranho objeto fotografado sobre a Ilha da Trindade, não foram tomados os
depoimentos dos tripulantes ou outras quaisquer providências, como confessa o
chefe do Estado Maior da Armada, ao responder a imprensa.
Em resposta a essa solicitação o deputado teve acesso a
um documento secreto da Marinha onde era confirmado todo o episódio, inclusive
acrescentando novos dados. Até o presente momento este documento não foi
liberado disponibilizado ao público pela Marinha. Espera-se com ansiedade a
divulgação destes dados ainda considerados sigilosos pelas Forças Armadas
Brasileiras.
Ceticismo
O Caso da Ilha de Trindade é muito combatido por céticos
e detratores do Fenômeno OVNI. A maneira como isso tudo começou é um tanto
quanto ridícula. O caso foi divulgado de imediato, ganhando grande repercussão
já naquela época. Houve um furo jornalístico por parte de um noticiário da
época que provocou a ira de seu concorrente direto que publicaria a notícia em
primeira mão. Em resposta, este veículo produziu um artigo em que tentou
desmistificar o caso. A confusão estava feita e céticos embarcaram na história
usando o caso em sua batalha por negar os fatos ufológicos.
Atualmente existem vários estudos céticos sobre o caso
sendo divulgados por variados sites céticos, inclusive brasileiros. Nenhum
destes estudos se sustenta, embora os céticos discordem desta afirmação. Vejamos
então o conjunto destas tentativas de refutação apresentadas e repetidas
incansavelmente por este grupo.
A idoneidade do autor
Este é um dos principais argumentos apresentados. Segundo
os céticos, as fotografias de Baraúna não podem ser consideradas legítimas
porque Baraúna seria um mestre em forjar fotos de OVNIs, inclusive publicando
artigo ilustrado em uma revista de grande repercussão na época, em período
anterior às ocorrências registradas em Trindade.
De fato existiu tal artigo publicado. Essa é uma
afirmação verdadeira. Mas, vejamos... Almiro Baraúna era cético em relação aos
discos voadores. Ele produziu o artigo com a intenção de mostrar que os casos
de fotografias de ÓVNIS teriam origem em fraudes. Se verificarmos as
fotografias deste artigo com as fotografias obtidas em Trindade, na presença de
48 pessoas, veremos uma diferença brutal de qualidade.
Outro detalhe que não vemos céticos citarem é o fato de
que Almiro Baraúna não usou as fotografias de Trindade para desacreditar os
casos ufológicos e a própria Ufologia, já que ele antes disso se apresentava
como cético. Seria uma oportunidade imperdível para qualquer cético. Se ele não
fez isso só podemos concluir que não houve fraude e o caso foi sim legítimo.
Para encerrar de vez a questão sobre a idoneidade de
Baraúna perguntamos: Porque uma pessoa que um dia fraudou fotografias
ufológicas com o intuito de desmoralizar a Ufologia, mudou repentinamente de
lado? Por acaso isso impede alguém de ter uma experiência legítima?
Fotos fraudadas?
Este é outro ponto comum na maioria das abordagens
céticas sobre o caso. Um dos mais ferrenhos defensores dessa hipótese é Martin
Powell que afirma que Baraúna teria usado recursos de dupla exposição para
fraudar a imagem do disco voador. Ele teria primeiramente fotografado um avião
no céu e depois fotografado a Ilha de Trindade com o mesmo negativo. Ele
reforça sua teoria com a afirmação de que em duas fotografias o objeto
registrado na segunda fotografia era idêntico ao primeiro em posição invertida.
Ora, isso é algo questionável que, de forma alguma, refuta o caso. Como
sabemos, fotografias de objetos à distância, com variações de posição, luz e
sombra podem ocultar ou realçar detalhes deste objeto. Sendo assim, afirmar que
houve uma adulteração na foto, usando um mesmo modelo, em posição invertida, é
uma afirmação precipitada sendo apenas mera suposição. Outro ponto importante a
ser ressaltado é que variadas instituições civis e militares, ou mesmo
particulares, fizeram numerosos testes em que não foram constatados
sobreposição de imagens (que é algo facilmente detectado), adulteração de
imagens ou qualquer outro truque fotográfico. Até mesmo a relação luz e sombra
do objeto e do ambiente coincidem perfeitamente, ou seja, o objeto captado na
fotografia foi mesmo registrado no local fotografado.
Avião?
Entre todas as afirmativas, talvez a mais cômica seja a
afirmação de que o objeto fotografado era um avião, modelo Twin Bonanza,
utilizado na época. Sem explicar como e porque haveria um avião daquele modelo
no meio do oceano e como nenhuma das dezenas de testemunhas o reconheceu como
tal, o autor tenta forçar uma explicação para o caso de forma mais agradável à
suas convicções.
Primeiro vamos fazer aqui o que o autor fez para chegar a
esta estupenda conclusão. Vamos pegar as fotografias originais por ele
utilizadas para desenvolver seu estudo (estudo?). As fotografias utilizadas
apresentadas aqui:
A qualidade das fotografias utilizadas no estudo de
Martin Powell é muito inferior e não oferece subsídios para uma análise
adequada. Mesmo assim ele insistiu em fazê-lo.
Vejamos o que ele nos diz sobre o alegado avião que teria
sido fotografado:
Teoria de Aeronave – Considerações Iniciais
Apesar da afirmação do GSW e outros escritores de que o
objeto nas imagens não apresenta nenhuma relação com qualquer aeronave
conhecida na época, e sua rejeição da hipótese de Menzel, eu acredito que há
bases razoáveis para comparar uma das imagens a uma aeronave. Enquanto
pesquisava o caso encontrei uma imagem melhorada em computador (pelo GSW) da F1
a qual eu achei que mantinha alguma semelhança com uma aeronave bimotor leve.
Com um pouco de concentração, uma pessoa pode ver um
avião leve aproximando-se da ilha, visto ligeiramente inclinado à direita. O
aspecto do avião, como descrito, é consistente com a direção na qual o objeto
foi visto se originando. Exame adicional da imagem melhorada do GSW (e, de
fato, da F1 original) revela outros detalhes que poderiam ser interpretados
como partes individuais de uma aeronave. A fuselagem principal pode ser vista,
iluminada de cima, de forma que o lado inferior da aeronave está em sombra.
Dois distúrbios na linha das asas podem ser vistos a uma pequena distância de
cada lateral da fuselagem, i.e. No local aproximado dos motores da aeronave. O
que foi assumido como a cúpula do disco voador (a seção escura ao topo) pode
ser visto agora como o pára-brisa da cabina do piloto. Finalmente, uma
protrusão peculiar abaixo da aeronave – sobre a qual eu nunca vi qualquer referência
prévia – pode ser interpretada como um trem de pouso extensível (ou retrátil)
no nariz.
Seleção da Aeronave
Para testar este conceito, eu precisei determinar se
qualquer aeronave em serviço poderia combinar as características mostradas na
F1 de Baraúna. Eu recorri a uma longa lista publicada de aeronaves em serviço
durante 1957-58, e selecionei algumas delas usando os critérios seguintes:
(a) Aeronave em serviço em janeiro de 1958,
(b) Aeronave leve (para este propósito, tendo um peso
vazio de menos de aproximadamente 2000 kgs),
(c) Monoplano,
(d) Bimotora, e
(e) Trem de pouso retrátil em triciclo (i.e., não do tipo
fixo ou apoiado na cauda).
A procura resultou em cinco aeronaves, e elas estão
listadas na Tabela 1, junto com seu tamanho e dados de desempenho. Os alcances
das aeronaves são incluídos para prover uma indicação de se a aeronave poderia
chegar à ilha do ponto em terra mais próximo (a viagem de regresso à Ilha de
Trindade do continente tem ao redor de 1300 milhas – não há nenhuma pista de
aterrissagem na ilha). O arquiteto e escritor científico Steuart Campbell
aponta que o objeto na fotografia apareceu/desapareceu a um azimute de ao redor
259°, i.e. Um pouco a sudoeste. Campbell usa este azimute para apoiar sua
alegação de que o objeto era uma miragem do planeta Júpiter, porém também vale
mencionar que esta é muito proximamente a direção de Rio de Janeiro (a cidade
mais próxima da ilha). A Tabela 1 mostra pelo menos algumas das aeronaves
selecionadas que poderiam ter feito a viagem de regresso a Trindade. Isto
fortalece a possibilidade de que o objeto de Trindade era uma aeronave, porém
por razões que explicarei depois, a pergunta de se uma aeronave poderia
alcançar a ilha poderia muito bem provar ser irrelevante ao caso.
Análise
Tendo preparado uma lista de aeronaves candidatas, eu
tentei então identificar a aeronave vista na F1 de Baraúna. Primeiramente eu
precisaria identificar as características em F1 que poderiam ser combinadas com
essas aeronaves reais, e nomeá-las para referência. Os pontos A a F representam
partes da aeronave medidas no plano horizontal (Figura 1). Eles incluem o
começo e o fim dos motores e o nariz da aeronave. Pontos adicionais H, W e N
são medidos no plano vertical (Figura 2), e são todos medidos relativos à sua
altura da fuselagem (F). H é a altura do motor sobre a base da fuselagem, N a
altura do nariz, e W a altura do pára-brisa. Os pontos horizontais A e D não
são pontos fixos e são criticamente dependentes do ângulo no qual a aeronave é
vista, assim era então importante estabelecer este ângulo com precisão
razoável. Claramente o ângulo era raso, sendo ligeiramente ao lado esquerdo da
aeronave. Eu estimei o ângulo, usando um modelo de aeronave, como entre 11° e
13°. Eu então tirei fotocópias de planos das aeronaves candidatas de um
diretório inclusivo, aumentando-os suficientemente para me permitir localizar
os pontos A a F com um nível alto de precisão. Eu sobrepus uma grade nos planos
de forma que poderia obter as coordenadas x e y para cada um dos pontos. Eu
então escaneei a imagem de F1 a uma resolução alta e a nivelei de forma que
poderia localizar os pontos de pixel em relação ao seu eixo geométrico correto.
Precisei determinar uma distância aproximada ao objeto
para minimizar os efeitos de distorção. A pesquisa de Campbell havia me
proporcionado uma escala altitude/azimuth necessária para avaliar, com precisão
razoável, a largura angular do objeto na fotografia que no caso de F1 mostrou
ser 1°. 54 ± 0.26. Sabendo as dimensões da aeronave, trigonometria simples
poderia então determinar uma distância do objeto. Cada aeronave foi levada em
conta, usando suas dimensões apropriadas, de forma que cada uma teve sua
própria distância computada em relação à largura angular do objeto de F1. Por
exemplo, o Twin Bonanza foi estimado a 418 metros de distância do fotógrafo, e
o Piper Apache a 375 metros.
Eu então escrevi um programa de computador que compararia
as posições dos pontos no plano com aqueles do objeto na fotografia. Usando um
ponto fixo na aeronave como uma referência, o programa de computador giraria o
plano da aeronave em incrementos pequenos e mediria a posição relativa dos
pontos até que eles combinassem (ou chegassem o mais próximo possível) com suas
posições relativas na fotografia. O ponto de referência mais óbvio a ser usado
era aquele mais à esquerda na imagem, i.e. O ponto A. Ele recebeu, portanto um
valor de pixel de zero, e o ponto mais à direita (F) um valor de 208. São
mostrados os valores de pixel medidos de F1 na fileira de topo da Tabela 2. Por
causa da resolução pobre da imagem na fotografia, cada ponto tem uma gama de
valores possíveis. A aeronave que melhor combinou a da fotografia teria seus
pontos A para F dentro da gama de valores na fileira de topo. A Tabela 2 dá a
melhor combinação calculada de pontos para cada aeronave, e também o ângulo de
visão no qual isto foi alcançado. A tabela mostra que os ângulos de visão da
maioria das aeronaves ficam próximo dos ângulos que eu havia previamente
estimado. Eu dei o número de pontos que a aeronave combinava (por definição,
todas combinavam os pontos de início e fim A e F). A coluna final, o erro de
pixel total, soma os pontos que não foram combinados e soma as quantidades
pelas quais os pixels caíram fora do valor designado. Por exemplo, o Piper
Apache satisfez todos os pontos exceto D, que caiu fora da gama designada (64 a
81) por (85-81) = 4 pixels, conseqüentemente este número aparece na coluna
final. A tabela indica que as aeronaves que combinam melhor os pontos
horizontais do objeto de Trindade são o Beechcraft Twin Bonanza, o Piper Apache
e o Cessna 310.
Os resultados das medidas de ponto verticais são
mostrados na Tabela 3. Novamente, a fileira do topo dá os valores para o objeto
de Trindade, com suas gamas de erro associadas. A tabela também dá duas outras
medidas; o ângulo diedral e a altura da roda do nariz. O diedral é o ângulo,
medido relativo à horizontal, da inclinação superior das asas. O objeto de
Trindade tem asas que claramente se inclinam em uma direção superior. Seu ângulo
diedral se compara favoravelmente com o de uma aeronave leve típica, os
resultados podem ser vistos na primeira coluna. A altura da roda do nariz é só
um valor aproximado (medido das fotografias e não planos) o qual eu incluí para
maior completude. A aeronave que combina melhor as medidas verticais do objeto
de F1 é o Twin Bonanza. Esta aeronave combina nove das onze características
medidas do objeto de Trindade – mais que qualquer outra aeronave no estudo.
Esta aeronave deve ser então uma candidata favorita para o objeto na F1 de Baraúna.
A Figura 3 mostra uma imagem sem tratamento do objeto da
F1 contra meu desenho de reconstrução de um Twin Bonanza, visto ao ângulo
(estimado) de 13°. 6 à esquerda. Para enfatizar as semelhanças eu conectei
ambas as imagens por linhas verticais mostrando o local de cada um dos pontos
horizontais (meu desenho de reconstrução é puramente baseado nos planos do
Bonanza, e não mostra a aeronave precisamente em seu aspecto correto. Para
combinar a imagem de F1 mais precisamente, a aeronave deveria estar com o nariz
um pouco mais virado para cima). O leitor pode tentar desfocalizar a visão e
tomar uma distância ao olhar para a imagem de F1. A imagem de uma aeronave em
F1 pode parecer mais vívida usando esta técnica.
Porém, se nós formos assumir que o objeto de F1 é um Twin
Bonanza, está claro pela Figura 3 que a envergadura do objeto na fotografia é
muito menor que deveria ser. Na realidade, por volta de metade da asa de
estibordo e um terço da asa de bordo parece estar faltando na imagem da F1. Há
duas possíveis explicações para isto: sobre exposição ou dupla-exposição. Qualquer
que fosse o caso, a seção exterior escura e estreita das asas teria sido apagada
pelo fundo do céu luminoso. De fato, Baraúna declarou que tinha usado uma velocidade
de obturador de 1/125 segundos a uma abertura de f/8. Isto, como ele mesmo
admitiu, resultou em uma pequena sobre exposição da foto.
Se o objeto de F1 é examinado de perto, uma pessoa pode
ver que o objeto é assimétrico em relação ao domo central – uma geometria
estranha para uma nave supostamente em forma de disco. A asa de bordo diminui
gradualmente, insinuando que o objeto real se estende muito além do que a foto
indica.
Comparação das Fotografias 1 e 2
Em seguida examinei a alegação do Oficial de que o objeto
da F2 estava invertido quando comparado com o em F1 e F3. O objeto em F3 mostra
pouca relação óbvia a F1, mas F2 certamente se assemelha em geral a F1 em
tamanho e forma (F2 mede aproximadamente 1°. 3 comparado a 1°. 5 de F1).
Se qualquer duplicação das imagens foi realmente feita, é
razoável assumir que F2 foi copiada de F1. Quando comparada a F1, F2 está
notavelmente degradada. A roda do nariz ficou obscurecida pelo ruído ao redor
do corpo do objeto, e há menos definição das características dentro dele. Isto
é consistente com uma imagem ter sido copiada, tal como uma imagem é
crescentemente degradada quando copiada várias vezes em uma fotocopiadora.
Eu inverti a imagem de F1 e a ajustei usando software de
computador, em uma tentativa de combinar sua aparência geral com a de F2. O
resultado é mostrado na Figura 5, na qual ambas as imagens tiveram seu tamanho
combinado de forma que suas características emparelhem o melhor possível.
Aumentando as propriedades de contraste e gama da imagem, F1 começou a mostrar
muito mais ruído ao seu redor, e depois de um tempo as semelhanças entre as
duas imagens ficaram bastante claras. A maioria das características é bastante
individual em forma e não seria esperado que ocorressem em outra imagem, na
mesma posição relativa, por casualidade. E, contudo, elas são vistas ocorrendo
em ambas às fotografias. Como a extremidade de uma imagem é seguida e comparada
com a outra, notáveis semelhanças são encontradas. Por exemplo, o domo do disco
(ou o pára-brisa da aeronave) e a área clara abaixo e à esquerda dele são bem
parecidos em ambas as imagens. A área ao redor da roda do nariz (que é
envolvida pelo ruído) e a metade esquerda da imagem também são semelhantes em
ambos os quadros. O leitor deveria tentar ver estas imagens a um ângulo
oblíquo; as semelhanças podem parecer mais óbvias deste modo. Como resultado
desta experiência, eu diria que há um caso forte para F2 ter sido uma cópia
invertida de F1, como o Oficial havia afirmado.
Discussão
Segue-se da avaliação anterior que as fotografias da Ilha
de Trindade poderiam envolver tanto uma aeronave quanto um processo de
dupla-exposição. A pergunta permanece sobre se uma aeronave realmente estava na
ilha para produzir a primeira imagem. Eu mostrei que era possível a uma
aeronave bimotora leve chegar à ilha e voltar ao continente, embora qual seria
o propósito provável de tal vôo – e quem o faria – não esteja muito claro.
Navegação por 650 milhas de mar seria difícil para dizer o menos, e a maior
parte fora do alcance de sinais de rádio para navegação. Certamente, não há (e
presumivelmente nunca houve) qualquer rádio de orientação para navegação na
Ilha de Trindade. Com um tempo de viagem de ida e volta de mais de seis horas
teria sido uma tarefa exigente para qualquer piloto de aeronave leve.
Permitindo estes fatores, eu concluo que não havia nenhuma aeronave na Ilha de
Trindade. O que seria mais provável, o aeroplano foi fotografado em outro lugar
e então sobreposto no fundo da ilha. Isto ajudaria a explicar por que, como o
Oficial tinha notado, a ilha aparece focalizada nitidamente nas fotografias,
mas o próprio objeto está borrado.
Talvez todas as imagens tenham derivado do mesmo original
– e ele teria sido uma fotografia de um Twin Bonanza ao que parece. Barauna
poderia ter experimentado com uma foto desta aeronave, talvez tendo notado –
bastante sem querer – como parecia como um disco voador do ângulo particular em
que tinha sido fotografada. Ele poderia então ter re-fotografado imagens
sucessivas da aeronave, em configurações de exposição e obturador diferentes, e
talvez desfocados a máquina fotográfica, em uma tentativa de ver como sua forma
de disco poderia ser refinada.
O trecho aqui apresentado destaca-se a grande
determinação em encerrar o caso através de explicações que na verdade nada
explicam. Vou ressaltar e comentar aqui os trechos mais importantes.
Logo no primeiro parágrafo, Powell confirma que não usou
fotografias originais, baseando seus estudos apenas em fotografias já
descaracterizadas ou com grande perda de qualidade. Quando entra no segundo
parágrafo o autor força uma interpretação subjetiva dele mesmo. Ele enxerga um
avião na imagem que ele apresenta e induz seus leitores a enxergarem isso
também. O que é mais cômico é que a comunidade cética surta quando os ufólogos
apresentam imagens da esfinge marciana, onde se observa claramente a forma de
um rosto. Esta fotografia, obtida em 1976 pela sonda Viking, é combatida por
céticos que alegam que ali temos apenas um efeito de pareidolia (Entenda o que
é Pareidolia aqui). Em termos comparativos, a esfinge marciana é muito mais
obvia visualmente do que um avião nas fotografias de Martin Powell. É o claro
exemplo de dois pesos duas medidas, onde o que vale para céticos não vale para
ufólogos e vice-versa.
Depois do exercício criativo, o autor discorre sobre a
seleção de uma aeronave apropriada que se encaixe em sua teoria. Com uma pose
de pesquisador fala sobre sua grandiosa pesquisa apresentando os requisitos que
ela deve apresentar para encaixar-se ao modelo necessário. Destaque para a frase:
"... a pergunta de se uma aeronave poderia alcançar
a ilha poderia muito bem provar ser irrelevante ao caso".
Como essa informação essencial pode ser irrelevante?
Trindade situa-se a 1200 Km da costa brasileira e a 2400 Km da costa africana.
E não se trata apenas de sugerir um avião que tenha essa autonomia de voo. Tem
que pensar na volta, pois a Ilha não tinha pista de pouso. Então numa viagem do
continente brasileiro para a Ilha a aeronave teria que ter uma autonomia
superior a 2500 Km e o dobro se for levar em conta a costa africana. Naquela
época aviões desse porte não tinham autonomia para tal. Partindo deste
princípio torna-se mais claro o porquê de o autor querer passar por cima deste
detalhe, pois isso elimina por completo sua hipótese.
Na seqüência, depois de uma descrição glamorosa de sua
pesquisa o autor chega à conclusão de que o Twin Bonanza seria o avião que
hipoteticamente teria sido fotografado em Trindade. Ele chegou a esta conclusão
graças aos seus estudos apoiados na pareidolia já comentada. Reproduzimos na
seqüência as imagens que compunham o texto.
Acima as duas imagens da forma como foram utilizadas no
estudo
Acima a relação apontada pelo autor. Com muita imaginação
e uma boa dose de vontade é possível aceitar a hipótese de Martin Powell
Os detalhes apontados pelo autor em uma representação de
um Twin Bonanza
À esquerda o disco voador fotografado em Trindade e à
direita um Twin Bonanza. Ambas as imagens estão em alta resolução e podem ser
observadas detalhadamente bastando clicar sobre elas
Após efetuar as comparações o autor, Martin Powell
continua discorrendo sobre suas teorias e não cita em nenhum momento a
autonomia de vôo das aeronaves envolvidas. Curiosamente encontramos apenas a
seguinte afirmação:
"Eu mostrei que era possível a uma aeronave bimotora
leve chegar à ilha e voltar ao continente, embora qual seria o propósito provável
de tal vôo – e quem o faria – não esteja muito claro. Navegação por 650 milhas
de mar seria difícil para dizer o menos, e a maior parte fora do alcance de
sinais de rádio para navegação".
Inevitavelmente devemos perguntar: Onde ele mostrou que
isso era possível? Por fim ele mesmo conclui que isso seria absolutamente
difícil por variados motivos e então, mais a frente, alega a que poderia ter
havido dupla exposição. Como já citamos, dupla exposição é algo facilmente
descoberto. Os negativos foram exaustivamente analisados por laboratório civis,
militares e particulares e nenhum indício de dupla exposição no negativo foi
descoberto.
Embora os céticos não admitissem, este caso permanece
sólido e até o momento sem refutação, resistindo bravamente contra aqueles que
por medo, ou ignorância mesmo insistem em negar a realidade dos fatos.
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