Faz um tempão que eu queria postar sobre isso e chegou o dia! Com uma ajudinha do Mensageiro
Sideral, é claro.
Quem é que fica espalhando essas lorotas de Nibiru por
aí? Ah, bem, tem tantos charlatões, e tantas versões diferentes, que é difícil
apontar quem foi o primeiro. Alguns apelidos que podem ser conhecidos do
leitor: Hercólubus, Planeta X, Segundo Sol… tudo mais ou menos a mesma cascata.
Mas a estória começou assim.
Nibiru é um nome que o escritor Azerbaijão ZechariaSitchin (1920-2010) emprestou da mitologia suméria. Em 1976, ele escreveu um
livro chamado “O 12º Planeta”, em que reinterpreta os mitos mesopotâmicos como
se fossem informações astronômicas passadas aos antigos por extraterrestres.
Para ter uma ideia do que ele sugere, é mais ou menos como você estudar a mitologia
grega, descobrir que Afrodite e Ares tiveram um caso, pressupor que os gregos
falavam de seus deuses quando na verdade o que eles queriam era relatar o que
acontecia com os planetas correspondentes a eles. Logo, podemos concluir que
Vênus e Marte, no passado, partilharam a mesma órbita.
Por esse mesmo método interpretativo (e com traduções de
sumério contestadas por todos os especialistas), no passado remoto uma lua do
planeta Nibiru teria colidido com o planeta Tiamat (uma deusa babilônia, ou,
para Sitchin, um mundo que existiu no passado remoto entre Marte e Júpiter), e
da colisão teriam nascido a Terra, o cinturão de asteróides e os cometas. Nem
precisa ser Ph. D. em astronomia para saber que essa hipótese não faz o menor
sentido.
Ainda de acordo com Sitchin, o planeta Nibiru teria uma órbita
elíptica, e passaria pelas nossas redondezas a cada 3.600 anos, mais ou menos.
Até aí, beleza. O cara apresentou a idéia dele, publicou
um livro em 1976, vendeu pra caramba, escreveu várias continuações, e tem gente
que até hoje leva a sério (né, Julião? :-)). Vida que segue. Ou melhor, seguia
até 1995, quando uma maluca americana que diz conversar com alienígenas do
sistema estelar Zeta Reticuli começa a passar os “recados” transmitidos a ela
de que uma catástrofe iminente estava para acontecer. Segundo ela, o Planeta X
passaria pelo Sistema Solar interno e faria um estrago terrível na Terra,
alterando o eixo de rotação e destruindo a maior parte da humanidade.
Essa doida (ou espertalhona) chamada Nancy Lieder disse
em 1996 que o Planeta X dela era exatamente o 12º planeta do Sitchin (ele não
curtiu). Ela também disse em 1997 que o cometa Hale-Bopp era só uma estrela
distante e estava sendo divulgado com afinco pelas autoridades para distrair a
comunidade mundial da aproximação do Nibiru. Teve de comer o sapato direito
quando o Hale-Bopp se mostrou um espetáculo brilhante que todos puderam ver a
olho nu no céu.
Aí ela falou que o Planeta X, com cerca de quatro vezes o
tamanho da Terra, ia passar por aqui em 27 de maio de 2003. Uma semana antes da
data, chegou a ir ao rádio nos EUA para aconselhar as pessoas a executarem seus
animais de estimação, para que eles não sofressem com o cataclismo vindouro. A
data passou, ela teve de comer o sapato esquerdo (e teve a cara-de-pau de dizer
que a data até então propagandeada era para despistar os conspiradores que
ocultavam a verdade). Desde então, a Tia Nancy não voltou a cravar uma data
para a passagem do Nibiru, embora continue insistindo que ele está vindo. Ele
está VINDO!
Depois da tiazinha, muitos cascateiros se apropriaram
dessa história, ou criaram versões alternativas. Uma das datas mais aventadas
para a tragédia, depois do fiasco de 2003, foi a de 21 de dezembro de 2012, que
coincidia com o fim de um ciclo do calendário maia. Teve gente falando no fim de 2013. E pode
apostar que vão continuar falando dele nos anos vindouros.
O pessoal da Nova Era também embarcou forte nessa. Em
1999, o indígena peruano V. M. Rabolu sugeriu que a Estrela de Barnard, uma anã
vermelha de verdade a seis anos-luz da Terra, era o planeta Hercólubus — o
mesmo mundo que no passado teria passado de raspão pela Terra e levado ao
colapso da civilização de Atlântida (a conjunção das lorotas só vai piorando,
veja você).
Depois desse breve resumo Cascatológico, não sei se
precisa dizer, mas em todo caso aqui vai: É tudo mentira.
1- A Terra não corre risco de uma (nova) colisão gigante
Planetas de fato colidiam na época em que o Sistema Solar
estava se formando, 4,5 bilhões de anos atrás. A formação da Lua, no entender
dos cientistas, se deu pelo impacto de um objeto do tamanho de Marte com a
Terra (mais sobre isso aqui), espalhando muitos detritos em sua órbita. Hoje,
não existem mais objetos de grande porte em órbitas ameaçadoras que possam
proporcionar uma colisão com nosso planeta. Claro, há os asteróides, que são
bem perigosos e podem acabar com a civilização, mas nada que se pudesse chamar
de planeta, ou mesmo planeta-anão. (O que faz pensar que os charlatões, além de
tudo, são meio manés. Eles poderiam trocar um planeta por um asteróide, e a
história toda já ficaria mais plausível e assustadora.)
2- É impossível esconder um planeta se aproximando
Marte tem metade do tamanho da Terra e nós o enxergamos
tranquilamente a olho nu, a quase 400 milhões de quilômetros de distância. Se
um planeta estivesse se aproximando de nós, não haveria conspiração
governamental capaz de escondê-lo. Astrônomos amadores do mundo inteiro
estariam trocando informações sobre a posição e a órbita desse hipotético
objeto. Por isso é possível falar sem medo de errar que não há no momento
nenhum planeta chegando por aí. Ah, mas e as fotos que vira-e-mexe são
divulgadas, algumas até a luz do dia, mostrando um objeto próximo ao Sol? São
obviamente reflexos de a luz solar no próprio interior da câmera. Os
espertalhões dizem que o “Segundo Sol” (uma variante da hipótese do Nibiru, mas
que prevê uma estrela e seu sistema planetário inteiro rumando na direção do
nosso) não é tão facilmente observado justamente porque está vindo de trás do
Sol. Mas eles se esquecem de que a Terra gira em torno do Sol. Nenhum objeto
pode se esconder de nós ficando atrás dele por muito tempo. E quanto a algumas
imagens que os malucos usam para dizer que se trata de Nibiru? Os caras são tão malacos que pegam imagens do
Hubble de outros objetos (como a nebulosa planetária V838 Monocerotis), e dizem
ser imagens secretas do Planeta X não-divulgadas pela Nasa. Brincadeira?
3- Se Nibiru existisse, seria inabitável
Zacharia Sitchin argumenta que Nibiru é habitado por
criaturas inteligentes que teriam dado aos sumérios conhecimentos de astronomia
avançada que acabaram transcritos em seus mitos. Hmm, difícil evoluir num
planeta que passa raspando o Sol a cada 3.600 anos. Um rápido período de
inferno escaldante durante o periélio e milhares de anos com temperaturas que
inviabilizam a preservação de água em estado líquido. Nenhuma forma de vida
conhecida pode sobreviver a isso. E, com toda probabilidade, nenhuma forma de
vida de nenhum tipo pode sobreviver a isso. É preciso um mínimo de estabilidade
climática para que a evolução possa produzir criaturas inteligentes fãs dos
sumérios. Se houvesse um planeta como o Nibiru de Sitchin, ele seria
inabitável. Adeus aos “deuses astronautas”.
4- A órbita do Nibiru é instável
Quando um planeta tem uma órbita tão oval quanto a que
teria Nibiru, ele normalmente é o único remanescente do sistema planetário ou
acaba sendo ejetado dele. O astrônomo americano Mike Brown já avaliou a
possível dinâmica do Nibiru e concluiu que ele seria expulso do Sistema Solar
por Júpiter em coisa de 1 milhão de anos — um nada, perto dos 4,7 bilhões de
anos do Sol e sua coleção de planetas. Talvez até existam outros mundos de
grande porte, ainda desconhecidos, ao redor do Sol, mas eles teriam órbitas que
os manteriam permanentemente além de Netuno, sem oferecer perigo aos
terrestres.
5- Os ETs parecem ruins de serviço
Tanto os ETs de Sitchin, que supostamente ensinaram um
bocado de astronomia aos sumérios, quanto os de Nancy Lieder têm um
comportamento curioso. Em ambos os casos, eles nunca excedem a capacidade
humana. Lieder foi instada a oferecer previsões sobre Júpiter antes que a sondaGalileo chegasse lá, mas os ETs com quem ela conversa não transmitiram
informação alguma que pudesse ser confrontada. Já os “professores” dos sumérios
falaram tanto da origem do Sistema Solar e tal, mas nem se deram ao trabalho de
ensinar a seus alunos preferidos como construir uma luneta para prosseguir nos
estudos depois que eles fossem embora. Sem falar em coisas básicas que eles
poderiam ensinar, como o domínio da eletricidade ou alguma outra tecnologia
útil que estivesse além dos povos antigos. Aliás, se os extraterrestres estão
lá hoje, vivendo confortavelmente em Nibiru, por que não mantêm um bate-papo
saudável com a humanidade por meio de rádio? Há poucas horas-luz de distância,
comunicação de duas vias seria perfeitamente viável. Mas não, eles preferem
contatar a humanidade só quando estão nas redondezas, a cada 3.600 anos… não
faz sentido.
A lenda urbana do Nibiru é interessante porque permite
que abordemos conceitos reais da astronomia e da astrobiologia, e separemos os
fatos da fantasia. Mas isso a ficção científica também faz, sem deixar as
pessoas preocupadas com o fim do mundo. Que, ao que tudo indica, não vai
acontecer tão cedo.
As pessoas hoje em dia acreditam em tudo. Se um filme ou livro for lançado dizem que mudou suas vidas e coisa e tal! Não seria melhor parar um pouco e botar a cabeça pra funcionar? Pensem nisso.
Rondinelli
Agradecimentos:Mensageiro Sideral
Agradecimentos:Mensageiro Sideral