sexta-feira, 11 de março de 2011

ORSON WELLES E A GUERRA DOS MUNDOS




 Às vinte horas de domingo, 30 de outubro de 1938, o locutor da Columbia Broadcasting System, de New York, anunciou: a Columbia Broadcasting System e as suas estações apresentam Orson Welles e o Mercury Theatre na "Guerra dos Mundos", H. G. Wells. Tratava-se, na verdade, do famoso romance, adaptado por Howard Koch, para uma hora de rádio. Os marcianos invadindo a terra, metidos em cilindros metálicos; depois, a interpretação sonora do extermínio da raça humana pelos monstros. A transmissão durou uma hora, mas, antes que ela findasse milhares de pessoas, nos Estados Unidos, - por mais extraordinário que pareça rezavam, choravam, fugiam espavoridas ante o avanço dos habitantes de Marte! Outros se despediam dos parentes, pelo telefone, preveniam os vizinhos do perigo que se aproximava, procuravam notícias nos jornais ou noutras estações de rádio, pediam ambulâncias aos hospitais e automóveis à polícia.
Mais tarde, centenas de pessoas foram ouvidas, num grande inquérito científico. Eis alguns trechos de depoimentos:

Mrs. Ferguson, doméstica de New Jersey: “... senti que era qualquer coisa de terrível e fui tornada de pânico... Decidimos sair, levamos mantas...

Joseph Hendley, do médio oeste: “... caímos de joelhos e toda a família rezou...

Archie Bvrbank, encarregada de uma bomba de gasolina: “... o locutor foi asfixiado, por ação dos gases: a estação calou-se. Procuramos sintonizar outra emissora, mas em vão... Enchemos o depósito do carro e preparamos para fugir, o mais depressa possível..."

Mrs. Joslin, de uma cidade do leste: “... quando o locutor disse - abandonem a cidade! -... agarrei o meu filho nos braços, e precipitei-me, pela escada abaixo..."

Mrs. Delaney, dos subúrbios de Nova York: “... segurava um crucifixo e olhava pela janela, à espera de ver cair meteoros..."

Helen Anthony, Colegial de Pensylvanw: "... duas amigas minhas e eu chorávamos, abraçadas, e tudo nos parecia supérfluo, ante a proximidade da morte...

Um estudante: “... cheguei à conclusão de que não havia nada a fazer. Imaginamos que nossos parentes e amigos haviam morrido. Percorri quilômetros em 35 minutos sem saber o que fazia..."

Uma negra, Sylvia Holmes, de Newark. Fugiu para a rua e dizia aos que a tranqüilizavam... "então não sabe que New Jersey foi destruída pelos Alemães? Eu ouvi na rádio...

George Bates, operário, de Massachussets, gastou, para fugir, todas as suas economias.

Mas estes são, apenas, alguns dos muitos testemunhos colhidos por Hadiey Cantrill e seus colaboradores.
Sim, porque seis milhões de pessoas devem ter escutado Orson Welles em "Guerra dos Mundos". E desses seis milhões quantos se assustaram? 28 % dos ouvintes acreditaram tratar-se de uma reportagem autêntica; 70 % destes assustaram-se ou ficaram perturbados. Hadiey Cantrill e seus colaboradores calculam em um milhão, pelo menos, o número de pessoas tomadas pelo pânico. O pânico foi uma reação clara em todos os Estados Unidos.

E que espécie de ouvintes da rádio foi vítima do extraordinário fenômeno? Toda a espécie de gente, abastada ou pobre, culta ou inculta, velhos ou novos. O número de chamadas telefônicas para New Jersey, fulcro geográfico do rádio-drama, durante a hora da emissão, aumentou de 39 % sobre o normal; a correspondência para as estações de rádio aumentou de 100 % sobre a media habitual; e pelo espaço de três semanas, os jornais dos estados unidos publicaram 12.500 notícias sobre o caso.
Hadiey Cantrill e seus colaboradores perguntam: porque é que esta transmissão assustou muitas pessoas, enquanto outros programas, de natureza fantástica, não conseguiram?
Por vários motivos:

(1º) - Realismo do programa
Os psicólogos americanos consideram excepcional esse realismo. Apenas Dorothy Thompson escreveu, no New York Hérald Tribune: "nada no Rádío-Drama era crível, mesmo no caso de o ouvinte ter sintonizado, tardiamente, o seu receptor.

2. °) - A aceitação da radio como veículo de notícias importantes
Poucas semanas antes, milhões de pessoas haviam ligado os aparelhos para escutarem notícias dos acontecimentos que se supunha degenerariam na guerra. Além disso, 50 % dos americanos que se interessam por notícias, preferem a informação da rádio. Na noite do programa, quando o rádio-ouvinte sintonizou com Mercury-Theatre, ouviu a orquestra de Ramón Requello, no salão do Hotel Park Place de New York. “Em dado momento, a música foi interrompida e o locutor disse: suspendemos a música de baile para lermos um boletim da intercontinental Radio News...” e aqui principiava, verdadeiramente, o Radio-Drama e o drama dos rádio-ouvintes.

(3°) - Prestígio dos locutores
É sabido que uma idéia ou um produto têm mais probabilidades de ser aceites se recomendados por pessoa conhecida ou por algum especialista na matéria. No caso deste rádio-drama, as pessoas que falavam, fazendo sugestões ou prestando declarações eram peritos (imaginários), portanto, pessoas autorizadas.
E não há dúvida de que esta técnica dramática surtiu efeito surpreendente.
(4°) - Linguagem
O Rádio-Drama estava escrito na linguagem mais direta; estava escrito como se fala.
(5°) - Sintonizações tardias
Como 50 % dos rádio-ouvintes declararam ter feito, realmente, uma sintonização tardia, assim se explica que milhares de pessoas não tenham compreendido, imediatamente, tratar-se, apenas, de uma emissão de rádio, e fossem tomadas de pânico.